terça-feira, 3 de janeiro de 2012

2012

" When a man is young, he is usually a revolutionary of some kind. So here I am speaking of my revolution." Wydam Lewis [encarte do Send Away The Tigers]


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Aqui, do subsolo, eu vejo minha vida inteira. Vejo o passado, os passos que eu dei e os pregos em que pisei. Vejo um lago que virou rio, com correnteza, e então o rio virou mar, com ondas grandes e fortes, capazes de derrubar qualquer barreira no caminho.

Aqui, do subsolo, eu vejo as pessoas. Elas vêm e vão, talvez permaneçam, tomara. Eu vejo o modo como me tratavam, porque eu, eu observo tudo. E observei-as inúmeras vezes afirmando que nasci sem coração. Ao mesmo tempo, eu as via desesperadas, carentes, com uma vontade de imediatismo que contraria a lógica do existir. Porém, devo confessar, por alguma delas até me preocupei, talvez indevidamente, talvez por excesso de coração.

Aqui, do subsolo, eu vejo um prédio. Não. Eu vejo vários. É uma metáfora do que nossa existência se tornou: absolutamente concreta. Concreta até demais, sem espaço para o abstrato, para as coisas apenas sentidas. Afinal, de que vale o entrelaçar das mãos, se por dentro não há o frio na barriga, o calor no coração?

Aqui, do subsolo, eu vejo o futuro. Enxergo perfeitamente que não há nada a ser visto, pois estamos sempre por conta do inesperado.  Vejo que não há nada que se possa temer, nem nada do que se possa envergonhar. Vejo que a ousadia é o que vai me levar longe e que as portas vão estar sempre fechadas para aqueles que não se arriscam a abri-las.

Aqui, do subsolo, eu vejo uma luz. Ela me traz de volta, não ao solo, mas a algo mais acima. Essa mesma luz já me cegou um tempo atrás, ou talvez eu já fosse cego. Eu a chamo de luz do tempo, pois, através dela, aprendi a esperar, a ouvir, a viver. E o mais importante, aprendi a aprender.

Aqui, do subsolo, eu vejo tudo. Via, pois estou de saída. Já vi o bastante, agora vou sentir.


[So i started a revolution from my bed]

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